É um largo estreito,
isto é, é um largo onde
se chega e parte
por becos estreitos.
Não é um largo redondo,
redondinho e acertado,
nem
quadrangularmente
prefeito
É um largo a subir, ou a descer,
dependendo por oonde se
entra
ou sai
magicamente arredondado no centro
onde,
assimetricamente,
foi plantado
um chafariz seco
à espera que alguém
lhe traga água.
Nele prantaram
três olaias,
árvores poucos disciplinadas
que alargam caoticamente as copas,
a seu tempo semeando no chão com pétalas roxas
e aspergindo o ar com um aroma adocicado.
Plantaram
também
um poste informativo –
bilingue já se vê –
onde se arremeda o local
ao gosto,
ou ao taste –
de turistas
fingidamente culturais.
Lá encontramos referência
a uma casa sobrevivente do terramoto:
um prédio com ressalto,
cujo vizinho já se encontra
totalmente desfigurado pela onda turística
A casa com ressalto, essa,
ainda mantêm um ar medieval,
é certo.
Mas quem habita nela,
vai partindo aos poucos
É assim a gente do largo.
Cada vez menos gente que fica.
A casa de ressalto, fica a nascente,
coladinha à arriba da Encosta do Castelo,
com entrada por um beco sem saída.
A nascente também, umas escadinhas
assaltam a Encosta.
A Poente, de costas voltadas ao Marim Moniz
três prédios e três becos,
numa disputa surda entre rendas altas,
casas minúsculas,
alugadas a imigrantes à cama
e Alojamento Local, essa entidade invasora que
insidiosamente
se espalha pela cidade.
A Sul, uma empenha recebe um
graffitti provocador
onde uma imaginária moradora
enfrenta um camone caçador de
selfies e pitoresco. Só que desse lado
o AL já ganhou.
Resta o Norte
e nele está a Casa.
Para o largo ele é só
6 janelas
e uma varanda
com duas portas.
Mas lá dentro,
ah, lá dentro
livros,
filmes,
papéis,
pinturas,
conversas,
canções,
um sem fim de experiências
de pessoas comuns
que se inventam,
experimentam
e vivem a Casa.
No Largo estranho e acolhedor,
da Achada.
31/Maio/2019
7/Junho/2019