Quando for hora de acabar,
gostava de ser eu a decidir
A probabilidade
é pequena:
um carro desgovernado
um passeio demasiadamente polido
um tremor de terra –
já devemos ao agitar da terra
uns tempos, dizem –
são tantas as possibilidades
que a hora de acabar
seja súbita
que só posso
pensar
aquelas que menos gosto:
a perca continua de capacidades,
de autonomia,
de lucidez.
E não deixo de pensar
na dor – para além dos trabalhos –
dos que me acompanharam
nesses últimos dias.
Porquê?
Para quê?
Se vim da terra assombrada
do ventre da minha mãe
se nem sequer fui ouvido
no acto em que nasci
gostava de ser eu
a dizer:
Acabou!
Quero parar!
Quero voltar a ser energia
que possa partilhar outras vidas.
Assim, sem crime de quem me ajudar.
Quando for hora de acabar,
gostava de ser eu a decidir.