
Vimos um avião de caça picar sobre o Palácio de Belém. Não disparou. Outro foi matar o soldado Luís na parada do RALIS, do outro lado da cidade.
A rádio da escola avisou que estava a haver um golpe militar.
Fechamos a escola. Reunimos uma RGA. À nossa escala defendemos a democracia.
Pouco tempo depois começamos a ouvir falar da “ameaça comunista”.
O PS, lado a lado com os bombistas do ELP/MDLP preparava a guerra civil e pedia a intervenção da NATO.
Em Novembro o General das patilhas repunha a “ordem”.
Os Motas Freitas, os Cónegos Melos, os Corrécios continuavam a destruir à bomba as sedes dos partidos de esquerda, a incendiar – a Faculdade de Ciências em Lisboa pelos “Comandos Operacionais de Defesa da Civilização Ocidental” (CODECO), sedes do PCP, da UDP, do MDP-CDE, da OCMLP, – a matar – Abril de 1976 Padre Max e Maria de Lurdes, Embaixada de Cuba, 1º Maio frente ao Hotel Vitória…
Depois, pouco a pouco calaram-se. Nem um foi condenado, alguns até condecorados.
O PS começava a desmantelar tudo o que beliscara o Capitalismo. No caminho deixara cair o marxismo.
Tentou passar a ser Partido Social Democrata. o Sá Carneiro cortou-lhes as voltas.
Soares avança contra a Reforma Agrária para florescerem as terras ao abandono, as coutadas de caça e o desemprego e imigração no Alentejo. Impôs os contratos a prazo. Atacou os Sindicatos. Que rico “socialismo”.
Passados anos, vi o golpista ser promovido a Marechal.
Vi os bombista do ELP/MDLP a serem piedosamente esquecidos.
Agora, pode bem Mário Soares arvorar-se em “Pai da Democracia”.
Porque a Democracia dele nunca será a minha e de tantos que sonharam, sonham e continuam a bater-se por uma terra sem amos, uma genuína democracia não da ditadura do lucro, mas dos produtores.